26 de jan. de 2009

Professores e alunos- Mestres e discípulos


A crise na educação brasileira que vemos hoje precisa urgentemente acabar. Precisamos repensar novos paradigmas, métodos de ensino, e acima de tudo, resgatar a paixão pelo ensino. Nada deve ser imposto- disso já temos muito- mas devemos levar crianças até adultos a criarem paixão pelos estudos, pela leitura, pela arte... enfim, tudo que envolve educação. Nossa cultura engessou a educação em moldes medievais, ultrapassados e desmotivadores. Eu mesmo não teria nenhuma vontade em estudar em escolas com professores que jogam conteúdos aos alunos; no Estado que empurra os alunos aos próximos anos sem critério. E todos nós caímos numa falsa educação, sem amor pelas disciplinas e com a obrigação em aprender. Onde estão os alunos que se apaixonam pela disciplina que o professor ensina com os olhos vibrando e a transmite com todo seu ser? Ser professor não deveria ser profissão, mas vocação. E os alunos deveriam sugar aquele momento precioso em sala de aula com seu mestre para aprender como horas que jamais voltarão. Afinal, estamos aprendendo o quê e para quê? As escolas e universidades têm passado o quê além de apenas obter um diploma para o campo de trabalho? E nossas igrejas, têm ensinado o que a seu rebanho, além de decorar versículos de bênçãos e de prosperidade?
Há dois mil anos atrás, através do povo judeu, podemos tirar lições preciosas para resgatarmos o sentido de uma escola, universidade ou ensino religioso. Não quero ser mais um professor perdido nesse meio, onde, além de desvalorizado, não transforma ninguém. Não quero transmitir a meus alunos apenas mais informação do que eles conseguiriam sozinho, pois são mais espertos que nós.

Mas vejamos o que ocorria antigamente. Os judeus da Galiléia criam que os primeiros cinco livros da Bíblia eram uma cópia fiel do que Deus havia dito. Eles chamavam esses cinco livros de Torá. Eles criam que a Tora era o caminho, a verdade e a vida. Criam que a melhor maneira de viver era como a Torá ensinava. Por isso, a principal paixão das pessoas do mundo de Jesus era ensinar, viver e obedecer a Torá.
A educação não era vista como um luxo ou opção; a educação era a chave da sobrevivência. O rabino, mestre das sinagogas, queria que seus alunos associassem as palavras de Deus com o que de mais delicioso e fino pudessem imaginar. Às vezes, o rabino colocava um pouco de mel nos dedos dos alunos e os fazia provar o mel, lembrando-os de que as palavras de Deus são doces como o mel ao paladar. Em geral, as crianças memorizavam a Torá até os dez anos e todo Antigo testamento até quatorze ou quinze anos. Sabiam tudo de cor (39 livros).
Em Israel, os alunos também deviam estudar a arte de fazer perguntas e a leitura dos textos. Grandes mentes discutiam as palavras de Deus, lutando com o que elas significam e com o que significa vivê-las. Quando o rabino fazia uma pergunta ao aluno, raramente dava a resposta. Os rabinos não estavam interessados em que o aluno regurgitasse informações apenas pelas informações em si. Eles queriam saber se o aluno as assimilara, se lutara com elas.
No mundo da educação rabínica, o foco eram as questões, que demonstravam não só que o aluno compreendera as informações, mas também levara o assunto um passo adiante. Era necessário, interpretação e aplicação prática.
Os alunos mais destacados procuravam o rabino para tornarem-se seus discípulos. Esses alunos não só tomavam sobre si o jugo (ensino) do rabino; eles queriam aprender a fazer o que o rabino fazia. Passavam por uma longa sabatina de perguntas, até se verem aptos pelos rabinos a segui-los.
Por volta dos trinta anos, já se poderia ver um mestre formado. A partir daí, os rabinos em geral começavam o ensino e a formação pública de discípulos. Jesus, como um grande estudioso da Bíblia desde criança, e obviamente destacado como um importante rabino inicia seus ensinamentos do modo contrário; chamando discípulos a o seguirem. Ele diz: “vocês pode ser como eu”. Note as palavras empregadas no evangelho de Mateus: “sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que eu ponho sobre vocês é leve”. (11,29). Lembre-se ainda que Jesus raramente respondia perguntas, mas sempre retornava a pergunta com uma mais adiante para reflexão.
Essa é a arte do ensino... estimular pensar, refletir, questionar. Levar todo ensinamento e tradição ao crivo da investigação intelectual, experimental e contemporânea.

Nossos alunos anseiam por isso; em serem desafiados, estimulados. Precisamos, como professores, sermos facilitadores para mentes mais críticas, criativas e, acima de tudo, apaixonadas por aprenderem mais.
Nossas instituições, escolas, universidades e igrejas, devem ter um ambiente para o diálogo aberto ao campo das idéias, do confronto, do paradigma, do desafiador, e assim atingir o verdadeiro aprendizado. Os dogmas, os chavões, os conteúdos decorados já não cabem mais numa sociedade que deseja crescer como pensadores, reformadores da moral, da ética, da educação e acabar com o lixo que nos é jogado sem qualquer análise criteriosa e questionadora. Precisamos de professores mestres e alunos discípulos. Pessoas que ensinem com a própria vida e aprendam como apaixonados o que escolheram viver.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor, somos alunos privilegiados em tê-lo como nosso mestre... por toda sua dedicação, todo seu empenho, agradecemos a Deus por tê-lo como orientador dessa profissão maravilhosa que é a fisioterapia. 2o Fisio-Osasco